Pela primeira vez, a média mensal do preço do café robusta superou o do arábica. Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), mostra que em setembro, o Indicador CEPEA/ESALQ do robusta tipo 6, peneira 13 acima, a retirar no Espírito Santo, fechou em R$ 24,72 por saca de 60 kg acima do indicador do arábica tipo 6.
Esta é a primeira vez que a média mensal do robusta se mantém acima da do arábica. Esse fenômeno reflete uma série de fatores, como a oferta global reduzida de café, especialmente do robusta proveniente do Vietnã, e em função das condições climáticas adversas que afetaram e afetam as safras no Brasil.
O crescimento do robusta no cenário mundial
Originário da África, o café robusta, também conhecido como conilon no Brasil, começou a ser cultivado por volta de 1870 no Congo e posteriormente em outros países. Os principais produtores globais são Vietnã (36%), Brasil (28%), Indonésia (13%), Uganda (7%) e Índia (6%), que juntos representam 90% da produção mundial, os dados são do USDA de 2023.
Enquanto Vietnã e Uganda são os principais exportadores, o Brasil retém parte significativa da produção para consumo interno. O cultivo do robusta é menos complexo em comparação com o arábica, com crescimento rápido, menor incidência de parasitas e maior resistência a pragas, o que reduz os custos de produção.
Regiões produtoras no Brasil
No Brasil, os estados de Espírito Santo, Rondônia e Bahia são os maiores produtores de café canephora, abrangendo as variedades robusta e conilon. O conilon é predominantemente cultivado no Espírito Santo e na Bahia, enquanto o robusta é produzido em Rondônia.
O Espírito Santo destaca-se como o maior produtor de conilon do país, responsável por mais de 60% da produção nacional, dados da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab). O café é a principal fonte de renda em 80% das propriedades rurais capixabas, e o estado é referência nacional e internacional no desenvolvimento da cafeicultura do conilon. O município de Jaguaré é o maior produtor do estado, com cerca de 24 mil hectares de área plantada e produção anual de 800 mil sacas.
Fatores que impulsionam o preço do robusta
Fatores que contribuem para a ascensão do robusta no mercado: redução da oferta global, especialmente do Vietnã, devido à seca prolongada, tem afetado os preços; conflitos geopolíticos na região do Mar Vermelho, importante rota comercial para o café destinado à Europa, têm dificultado o fluxo de café da Ásia, aumentando a demanda pelo grão brasileiro.
Em agosto deste ano, o preço do café conilon atingiu seu maior valor histórico, acumulando uma alta de 95% no ano. A saca de 60 kg chegou a ser cotada em R$1.483,00, superando o arábica, que atingiu R$ 1.400,00 por saca com alta de 44,2% no mesmo período.
Desafios climáticos e impactos na produção
O clima exerce influência determinante na produção. No Brasil, a falta de chuvas e temperaturas elevadas têm prejudicado o desenvolvimento das safras de arábica e robusta para 2025/26. As plantas estão debilitadas e o déficit hídrico nas regiões produtoras tem se intensificado, comprometendo não apenas a produção atual, mas também o potencial produtivo das próximas safras.
No primeiro trimestre de 2024, foram registradas precipitações irregulares e temperaturas acima da média, acelerando o ciclo de granação e maturação dos grãos. Esse cenário resultou em uma maturação mais rápida dos frutos e em plantas com elevado nível de estresse, o que pode afetar negativamente as primeiras floradas.
Perspectivas para o mercado cafeeiro
A produção global de café de outubro de 2023 a setembro de 2024 está estimada em 178 milhões de sacas de 60 kg, sendo 57,4% (102,2 milhões de sacas) de Coffea arabica e 42,6% (75,8 milhões de sacas) de Coffea canephora. A América do Sul responde por 50,2% da produção mundial, com destaque para o Brasil.
Mesmo com os desafios climáticos, o Brasil consegue atender à crescente demanda global. A exportação brasileira de café atingiu 28 milhões de sacas de arábica e conilon de janeiro a julho, um aumento de 46% em relação ao mesmo período de 2023. Os Estados Unidos lideram a lista de compradores, seguidos por Alemanha, Bélgica, Itália e Japão.
Para os produtores, o momento é de oportunidade, mas também de atenção. Investimentos em técnicas agronômicas e gestão eficiente serão essenciais para aproveitar ao máximo este cenário positivo e garantir a continuidade do crescimento da cafeicultura, não só nas regiões produtoras, mas em todo o Brasil.
Informações e gráfico: Scot consultoria