
No dia dedicado aos cortadores de cana, a cena nas lavouras do Mato Grosso do Sul pouco lembra o passado de exaustão, calor e invisibilidade. O que antes era um trabalho marcado por sofrimento e condições muitas vezes degradantes, hoje representa uma das maiores histórias de transformação do campo brasileiro. Cortadores de cana, antes conhecidos como “boias-frias”, se tornaram operadores qualificados de máquinas de alta performance, profissionais técnicos e agentes de um agronegócio moderno, rentável e mais humano.
Em setembro de 2007, a manchete do jornal Repórter Brasil anunciava: “Trabalho no corte de cana tem dias contados”. À época, firmava-se um acordo entre usineiros e o governo para mecanizar a colheita da cana-de-açúcar e erradicar o trabalho degradante, com um prazo de dez anos. Décadas depois, essa previsão se confirmou — mas com uma reviravolta digna de registro: os trabalhadores não desapareceram. Eles evoluíram.

Hoje, para operar uma colheitadeira de cana — que pode custar mais de R$ 1 milhão — é preciso qualificação técnica, CNH, conhecimento de tecnologia embarcada e, principalmente, formação. Cursos oferecidos por instituições como o SENAR, em parceria com os Sindicatos Rurais, ou escolas técnicas custam entre R$ 600 e R$ 1.500 e duram cerca de 40 horas. Essa formação transformou o trabalho braçal em uma carreira com remuneração média de R$ 3.015, benefícios como vale-alimentação, seguro de vida, plano odontológico, transporte, moradia, e jornadas protegidas por todas as garantias da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Para Alessandro Coelho, presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho, a qualificação transforma vidas: “Hoje, esses trabalhadores ocupam uma posição de protagonismo em um setor de altíssima relevância econômica. São operadores qualificados, sustentando suas famílias com dignidade e acesso a oportunidades que há 20 anos pareciam inalcançáveis”, destaca.
E não se trata apenas de uma mudança individual — trata-se de uma engrenagem que move a economia de todo o Mato Grosso do Sul. O estado possui 800 mil hectares plantados com cana-de-açúcar, distribuídos em 42 municípios e abastecidos por 20 usinas. A cultura, concentrada majoritariamente na região do Cone Sul, representa 16% do Produto Interno Bruto (PIB) Industrial do estado e é responsável por cerca de 30 mil empregos diretos. Quando somada a toda a cadeia do setor sucroenergético — incluindo energia, biomassa e produção de açúcar —, esse número pode ultrapassar os 120 mil postos de trabalho diretos e indiretos.

Com a mecanização, também vieram ganhos ambientais expressivos. A erradicação das queimadas reduziu drasticamente a emissão de CO₂, e a modernização das práticas tornou o cultivo mais sustentável. Os impactos são percebidos tanto no ar que se respira quanto na vida das famílias que dependem dessa cadeia produtiva.
O Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho tem papel decisivo neste processo de valorização da mão de obra. A entidade atua com ações permanentes de capacitação profissional, consultorias técnicas, realização de palestras e cursos voltados à modernização das práticas rurais. Além disso, mantém um balcão de empregos que aproxima trabalhadores qualificados de empregadores do setor, ampliando o alcance da transformação social pelo agro.
“Ao investir em qualificação e intermediar oportunidades, o sindicato cumpre sua missão de transformar vidas por meio do trabalho digno e produtivo. Cada trabalhador formado, cada vaga preenchida, é uma família com mais segurança e esperança no futuro”, afirma Alessandro Coelho, presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho.
Neste Dia do Cortador de Cana, o que se celebra não é apenas o passado duro de um Brasil rural que resiste — mas a vitória de um presente que se reinventou. A profissão que um dia foi sinônimo de dor e invisibilidade, hoje é uma referência de superação, dignidade e futuro promissor.
Por: Fabíola Camilo
