Na manhã de hoje, 20 de janeiro, o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) participou do evento “Cacau, café e sustentabilidade do campo ao consumidor com EUDR a um ano de distância”, realizado, de forma híbrida, pelo Comunicaffè.
O encontro contou com a participação de Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé; Massimo Battaglia, líder de Pesquisa da Accademia del Caffè Espresso; David Brussa, chefe de Qualidade Total e Sustentabilidade da Illycaffè; Maurizio Giuli, diretor de Estratégia, CSO, do Grupo Simonelli; Mônica Meschini, especialista em cacau e chocolate de renome mundial e cofundadora do International Chocolate Awards; e Mário Vicentini, representante da Comunicaffè e Comunicaffe Internacional.
As falas dos participantes abordaram todas as questões relacionadas à sustentabilidade da cadeia de suprimentos do cacau e do café, do campo à xícara e demonstraram os compromissos com a sustentabilidade, apresentando ações de empresas e setores com foco nessas duas culturas.
O diretor-geral do Cecafé destaca que todos apresentaram preocupações com o Regulamento da União Europeia para Produtos Livre de Desmatamento (EUDR) e o seus riscos para operadores frente a diferentes realidades no mundo, sendo que muitos países não estão preparados para cumpri-lo.
“Preocupante foi a apresentação de uma visão distorcida de Brasil apresentada por um participante, fato que rebatemos de imediato, evidenciando que nosso país está comprometido em promover padrões de sustentabilidade, preservação ambiental e progresso humano nas regiões produtoras de café”, explicou.
Devido a isso, conforme Matos, as novas regulamentações do comércio global devem considerar os compromissos assumidos e a realidade de cada país, de maneira que não resultem em exclusão social em muitos países produtores, uma vez que os requisitos são desafiadores e há países que não estão preparados para atender às novas regras.
Em sua explanação, ele apresentou o contexto da cafeicultura brasileira e a complexidade de sua cadeia de custódia, com o Brasil sendo o maior produtor e exportador e o segundo maior consumidor do mundo, contando cerca de 40 regiões produtoras e 264,9 mil cafeicultores, caracterizados pela agricultura familiar.
O diretor do Cecafé também recordou que, como pontos positivos para o atendimento dos cafés do Brasil ao EUDR e ao Corporate Sustainability Due Diligence Directive (CSDDD), o país possui o Código Florestal, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e a Plataforma de Monitoramento Socioambiental Cafés do Brasil.
Desenvolvida pela Serasa Experian em parceria com o Cecafé, essa ferramenta compila informações de inúmeras bases de dados públicas e oficiais, que avaliam índices socioambientais, como níveis de conservação florestal, cultivo agrícola e alertas de desmatamento nas regiões produtoras, garantindo a rastreabilidade do produto em toda a cadeia produtiva.
“Além de monitorar mais de 250 mil cafeicultores, nossa plataforma conta com a adesão superior a 50 exportadores, os quais respondem por praticamente 100% das exportações brasileiras de café para a União Europeia”, completou.
No evento, foi interessante o representante brasileiro ter proatividade em sua fala no que se refere à necessidade de se olhar e pensar as diferentes realidades de outros países, inclusive a própria heterogeneidade no território nacional e a visão distorcida sobre o Brasil em questões ambientais na Amazônia, bem como em relação ao real perfil e à diversidade da cafeicultura nacional.
“O Brasil está indo muito bem, aumentando as exportações para a UE em 43% em 2024, que chegaram a 23,6 milhões de sacas e cerca de 71 mil contêineres, mas temos diferentes realidades em um país como o nosso, por isso é importante ter transparência, regras claras, legislação coerente, banco de dados oficiais, como no trabalho da plataforma Cecafé-Serasa Experian, para que haja justiça às diferenças existentes no próprio Brasil e, principalmente, nos países africanos, de forma que seja possível atender ao EUDR e às demais regulações de mercado nesse sentido”, pontuou, no evento, Matos.
Ele expôs aos participantes, ainda, que a estruturação desse arcabouço não ocorre de um ano para outro, como se tenta fazer com o EUDR. “Para que os países produtores tenham condições de atender às novas regulações voltadas aos critérios ESG e contribuam com seus importadores no cumprimento da devida diligência, é necessário tempo para que haja um melhor entendimento de cada realidade. O Brasil, por exemplo, levou décadas discutindo o Código Florestal e, até hoje, busca melhorar a validação do CAR”, exemplificou.
Segundo o diretor-geral do Cecafé, o nome do jogo é colaboração e cooperação global e a pergunta que precisa ser respondida é “o que podemos fazer juntos para impulsionar e nos envolver em mudanças positivas?”.
“Em tempos geopolíticos desafiadores, o multilateralismo e os acordos comerciais incentivam o comércio global, diferente do unilateralismo e das barreiras comerciais, que podem comprometer os avanços de décadas na inclusão social, gerando ou fomentando a desigualdade e a pobreza nas nações mais humildes”, concluiu.
Fonte: Conselho dos Exportadores de Café do Brasil – Cecafé