
Reunidos em Brasília nesta segunda-feira (19), os ministros de Energia dos países do BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — ratificaram, em comunicado conjunto, seu compromisso com uma transição energética justa, ordenada e inclusiva, com foco no desenvolvimento sustentável, na segurança energética e na descarbonização das economias. O encontro também contou com a participação de representantes da Bolívia e de Cuba, países parceiros do bloco.
O documento, com 28 parágrafos, reforça a importância de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em linha com o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), respeitando as particularidades de cada nação. Ao enfatizar a energia como “pilar estratégico” das economias do grupo, o secretário nacional de Transição Energética e Planejamento do Ministério de Minas e Energia (MME), Thiago Barral, lembrou que os países do BRICS representam quase 50% da produção e consumo de energia global — e, por isso, têm responsabilidade ampliada no cenário climático e econômico internacional.
“Sem investimentos adequados, a transição será mais lenta, menos equitativa e menos inclusiva”, destacou Barral.
O bloco defendeu maior acesso a financiamentos em condições justas e uso de moedas locais no comércio energético, como forma de garantir soberania econômica e acelerar a modernização dos setores produtivos.

Agricultura e agroenergia no centro da nova matriz
Com a aprovação do Roteiro de Cooperação Energética BRICS 2025–2030, as nações planejam ampliar investimentos em tecnologias limpas, armazenamento energético, biocombustíveis e eficiência energética. Nesse contexto, o Brasil se destaca pela contribuição da agroenergia — especialmente etanol de milho e de cana-de-açúcar — como um dos pilares estratégicos da transição verde.
A recente abertura do mercado chinês para exportações de DDG (grão seco resultante da produção de etanol de milho) fortalece ainda mais a agroindústria nacional. A integração entre agricultura e energia limpa foi apontada como um dos diferenciais do Brasil na corrida por economias de baixo carbono.
O embaixador Mauricio Lyrio, representante do Itamaraty, reforçou que transição e desenvolvimento são complementares.
“O mundo vê a transição como uma necessidade diante da crise climática. Nós vemos como uma oportunidade para reposicionar nossos países em um novo paradigma econômico.”
Sustentabilidade, eficiência energética e COP30
Durante o encontro, também foram destacados os avanços na Plataforma de Cooperação em Pesquisa Energética, os dois novos relatórios em elaboração sobre combustíveis sustentáveis e acesso à energia e o anúncio da primeira cúpula da Aliança Global para Eficiência Energética, prevista para fevereiro de 2026, nos Emirados Árabes Unidos.
Com a COP30 marcada para novembro deste ano em Belém (PA), os BRICS assumem papel estratégico. O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência, destacou que o bloco “precisa assumir mais liderança, diante do fracasso das nações desenvolvidas em liderar a agenda climática”.
O comunicado também convoca os países desenvolvidos a ampliarem apoio financeiro e tecnológico aos países em desenvolvimento, de forma a garantir o cumprimento das metas climáticas e reduzir desigualdades. O Brasil, como anfitrião da próxima COP e atual presidente do BRICS, lidera os esforços pela construção de novas metas mais ambiciosas e realistas, como as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que serão atualizadas este ano.
Juventude e futuro energético
A próxima etapa da agenda climática e energética do bloco será a VII Cúpula Energética da Juventude do BRICS, nos dias 9 e 10 de junho, também em Brasília. O encontro reunirá jovens especialistas e lideranças políticas para discutir inovação e propor recomendações para o Relatório de Energia da Juventude BRICS 2025, reforçando a dimensão intergeracional da transição energética.
Com um olhar voltado ao futuro, os BRICS sinalizam que energia, agricultura e clima caminham juntos como eixos de transformação econômica, social e ambiental. E o Brasil, com sua matriz limpa, experiência em biocombustíveis e protagonismo agroambiental, se coloca como elo central dessa articulação global.