
O crescimento expressivo do agronegócio nas últimas décadas não tem impedido que milhares de produtores rurais amarguem uma realidade preocupante: o endividamento crescente e, em muitos casos, o colapso financeiro. Em Mato Grosso do Sul, essa crise silenciosa ganhou holofotes nesta semana com a realização de uma audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, voltada exclusivamente à discussão da securitização das dívidas rurais do estado.
A iniciativa, articulada pelo deputado federal Rodolfo Nogueira (PL-MS), reuniu representantes do setor produtivo, parlamentares e autoridades. Entre os protagonistas do debate esteve a Aprosoja/MS (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul), que, por meio de seu presidente Jorge Michelc e dos diretores Fábio Caminha e Paulo Stefanello, levou à capital federal o clamor dos produtores que já não conseguem honrar seus compromissos.

“A situação é crítica. Muitos produtores estão no limite de sua capacidade de crédito, e a renegociação das dívidas deixou de ser uma opção e se tornou uma necessidade urgente para que o campo continue em pé”, alertou Michelc durante a audiência.
Dados do Serasa, apresentados por Nogueira, mostram que os pedidos de recuperação judicial no estado aumentaram mais de 600%. Em nível nacional, quatro em cada dez pedidos do tipo vêm do Centro-Oeste — mais precisamente de Mato Grosso do Sul e de Mato Grosso. Seca prolongada, instabilidade nos preços das commodities e alta dos juros compõem o cenário que empurra o produtor para uma espiral de dívidas.

O peso do crescimento sobre os ombros de quem produz
A fala do presidente da Aprosoja/MS também trouxe uma reflexão profunda sobre o custo do avanço do agro brasileiro nas últimas três décadas. “Saímos de cerca de 60 milhões de toneladas de grãos nos anos 90 para mais de 310 milhões em 2024. Exportamos para o mundo todo, mesmo enfrentando seca, pandemia, inflação, câmbio instável. Mas a pergunta que fica é: quem financiou esse crescimento?”, questionou Michelc.
Ele criticou o modelo de securitização adotado a partir dos anos 90, que teria funcionado como uma medida paliativa. “Muitos produtores foram empurrados para programas de renegociação mal estruturados, sem qualquer suporte técnico ou jurídico. Resultado: dívidas impagáveis e o estigma de inadimplente, mesmo continuando a produzir com eficiência”, afirmou.
Aprosoja como articuladora
Embora o deputado Rodolfo Nogueira tenha sido o responsável pelo pedido da audiência, é a Aprosoja/MS quem vem assumindo o protagonismo na articulação com os poderes Legislativo e Executivo para viabilizar medidas reais de alívio à dívida do campo. A entidade defende a revisão dos contratos de securitização, a criação de linhas especiais de crédito com juros adequados à realidade rural e, sobretudo, a valorização do produtor como pilar econômico e social do país.

“Essa geração que impulsionou o Brasil ao topo da produção mundial não pode ser tratada como inadimplente, mas como credora de uma política pública mais justa”, concluiu Michelc.
Por: Henrique Theotônio
Com informações da Assessoria Aprosoja MS
Fotos: Agência Câmara/Vinicius Loures
