
Com a recente decisão do ex-presidente e pré-candidato Donald Trump de impor uma tarifa adicional de 50% sobre a carne brasileira, frigoríficos de Mato Grosso do Sul começaram a suspender a produção voltada ao mercado norte-americano. A medida, segundo o Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados do Estado (Sincadems), é preventiva: evita o acúmulo de estoques que, diante do novo cenário tarifário, não teriam escoamento garantido.
O impacto é imediato. Até julho de 2025, a carne bovina desossada e congelada respondeu por 45,2% de todas as exportações do estado, somando mais de US$ 142 milhões em movimentações. Os Estados Unidos eram o principal destino. Em 2024, o mesmo produto havia rendido cerca de US$ 78 milhões, representando 27,8% das exportações para o país, conforme dados da Federação das Indústrias de MS (Fiems) e do ComexStat.
O agravante agora é a incerteza. As exportações sul-mato-grossenses para os EUA correm o risco de se tornarem inviáveis economicamente. Considerando o custo de produção, logística e já existentes taxas de importação, a imposição de um tributo extra de 50% inviabiliza a competitividade da carne brasileira frente a fornecedores de países com acordos comerciais mais vantajosos, como Austrália e México.


Prejuízo direto ao campo
A suspensão impacta diretamente os pecuaristas do estado, especialmente os integrados à cadeia de exportação premium, que atende aos rígidos padrões sanitários exigidos pelos norte-americanos.
A Acrissul avalia com certa preocupação essa suspensão no curto prazo, especialmente pela possibilidade de ajustes nas escalas de abate dos frigoríficos habilitados para exportação aos Estados Unidos. No entanto, acreditamos que o impacto poderá ser amenizado, já que recentemente novos mercados foram abertos, como o México e Indonésia, além do fortalecimento das exportações para a China e o Chile. Essas alternativas tendem a absorver parte da produção redirecionada.
Além disso, historicamente a partir de agosto e setembro, há uma diminuição natural da oferta de gado para abate, o que pode equilibrar o mercado e evitar uma queda mais expressiva nos preços da arroba. “Seguimos acompanhando de perto o cenário e defendendo a ampliação e diversificação dos destinos da carne sul-mato-grossense, como estratégia para proteger o produtor rural dessas instabilidades comerciais“, comentou Guilherme.
A Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS) também se manifestou, o presidente da instituição, em entrevista ao canal Agro+ foi duro nas críticas e cobrou o seriedade do Governo, que brinca com a situação: “O presidente deveria ter ficado quieto a muito tempo, já que não ficou, é melhor parar com as brincadeiras. A situação é grave. Estamos discutindo uma relação de comércio exterior que está trazendo prejuízo para o setor produtivo e para o Brasil. Brincar com isso pode trazer mais problema. O que se deve fazer é tomar atitude com seriedade pra antes de primeiro de agosto resolva a situação e não criar brincadeiras impertinentes a este momento”, declarou Marcelo Bertoni, presidente da Famasul.
Brasil fragilizado nas negociações
Atualmente, os Estados Unidos são o segundo maior importador da carne bovina brasileira, absorvendo 12% do volume total exportado pelo país — atrás apenas da China, que responde por 48%. O Mato Grosso do Sul, terceiro maior produtor de carne bovina do Brasil, é peça-chave nesse cenário e, portanto, um dos estados mais atingidos.
Economistas e lideranças do agro têm criticado a postura passiva do governo federal frente à escalada tarifária imposta pelos norte-americanos, interpretada como parte de uma guerra comercial não declarada, onde o Brasil precisa urgentemente rever suas estratégias diplomáticas e ampliar acordos bilaterais com países da Ásia, Oriente Médio e Europa.
O que pode ser feito
Entre as medidas defendidas pelo setor produtivo de MS estão:
- Negociação urgente via Itamaraty e MAPA com o governo dos EUA;
- Retaliações comerciais controladas, dentro do escopo da OMC;
- Abertura de novos mercados com estímulo à certificação sanitária e acordos com países árabes, Coreia do Sul e Japão;
- Redução de impostos internos, para tornar o produto mais competitivo mesmo com tarifas adicionais.
Enquanto o governo não se posiciona com firmeza, o setor produtivo do país e, principalmente o de Mato Grosso do Sul, cobra ações efetivas para solucionar o problema causado pelo próprio governo.
Por: Henrique Theotônio
