Governo diz que negociação do agro sobre tarifaço dos EUA vai incluir empresários e buscar outros mercados

Compartilhe:

Em entrevista coletiva na ultima quinta (17), após a segunda reunião do governo federal com empresários sobre as tarifas de 50% aos produtos nacionais anunciadas pelo presidente Donald Trump a partir de 1 de agosto, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, disse que a estratégia com o setor será a mesma definida com os empresários da indústria. O governo buscará o diálogo com os Estados Unidos e os empresários do agro também vão tentar negociar com congêneres estadunidenses, para mostrar os prejuízos para o mercado dos EUA. Mas o destaque foi a busca por ampliação de prazo especialmente para o setor que é mais afetado por comercializar produtos perecíveis.

O vp disse que as reuniões vão continuar. “Amanhã vamos falar com a Amcham, indústria química, confederações, empresas de software, de origem americana e centrais sindicais. Continuam essas conversas”.

Alckmin também voltou a dizer que recebeu o representante da Embaixada dos EUA. “Eu já recebi o Gabriel Escobar, que é o encarregado da Embaixada Americana, não agora nesses dias, mas anteriormente. E temos mantido um contato importante com o secretário [de Comércio dos EUA] Howard Lutnick e com o embaixador [Jamieson] Greer da USTR [United States Trade Representative].”

Por fim, Alckmin citou lei de reciprocidade e disse que o governo terá alguns dias para tentar reverter tarifa dos EUA. “Temos o decreto e o comitê instalado para ouvir o setor produtivo. Teremos outras reuniões e alguns dias para tentar reverter esse quadro que não tem a menor lógica do ponto de vista econômico, nem comercial, é prejudicial para o Brasil e para os EUA.”

O ministro da Agricultura e Pecuária (MAPA), Carlos Fávaro, disse que os diálogos com o setor produtivo vão continuar e ressaltou o trabalho de ampliação dos mercados que vem sendo feito pelo governo. “Isso foi feito de forma muito intensa, com o próprio presidente lidando com a retomada da boa diplomacia brasileira, gerando 393 novos mercados abertos para a agropecuária brasileira, além das ampliações”, disse. “O próprio mercado americano é crescente, desde 2024 para esse ano, por exemplo, a carne bovina saiu de 220 mil toneladas para 196 mil em seis meses, chegaremos a 400 mil toneladas no fim do ano.”

A determinação do presidente Lula é que esse papel seja intensificado, achar novas alternativas para essa produção brasileira”, disse Fávaro, ressaltando o lançamento do “maior Plano Safra da história do país” e da safra recorde dentro de uma estratégia de “abastecer o mercado local, combater inflação de alimentos e excedentes para exportar gerando crescimento”.

Continua depois do anúncio

“Nós vamos intensificar a busca de alternativas, mas reconhecendo que não será possível em 10 ou 15 dias dar destino a tudo isso que se produz no Brasil e é vendido para os EUA. O diálogo está aberto com soberania e altivez.”

Alguns representantes do agro que participaram da reunião deram declarações aos jornalistas.

Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), disse: “Trouxemos nossa preocupação com a medida tomada pelos EUA. Pedimos ao governo que a negociação precisa continuar. Nossos frigoríficos já estão parando de produzir para os EUA haja vista a incerteza da taxação. Com essa taxação se torna inviável a exportação de carne bovina aos EUA, que é o nosso segundo maior comprador, depois da China.”

“Temos cerca de 30 mil toneladas que estão no porto ou nas águas e a nossa preocupação é como se dará o desdobramento a partir do dia 1o. É um volume de US$ 160 milhões que já estão produzidos e a caminho dos EUA. O impacto é numa cadeia que gera milhões de empregos no Brasil”, disse.

O representante da Abiec disse que apoia o governo brasileiro, por todo o trabalho de abertura de mercados e que negocia com fornecedores. “A sugestão, de imediato, é se possível uma prorrogação dessa taxação, pois existem contratos em andamento e não dá tempo de desfazer esses contratos até o dia primeiro. Ou o retorno”, disse Perosa.

Perosa disse que a produção brasileira complementa a americana, que está em seu menor ciclo pecuário dos últimos 80 anos, e o Brasil exporta carne utilizada para fazer hambúrguer, ou seja, “recortes do dianteiro do boi e carnes não tão consumidas no Brasil, mas que tem importância econômica nos EUA”. “O hambúrguer vai ficar mais caro com certeza nos EUA”, disse.

Continua depois do anúncio

“Lembrando que setor já é taxado em cerca de 36%, já tem alta taxa, e com mais 50% fica inviável para a exportação”, disse o presidente da Abiec.

O presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CECAFÉ), Marcio Cândido, destacou que o Brasil exportou no ano passado 50,4 milhões de sacas de café, das quais 8,2 milhões para os EUA, que é maior consumidor de café. “E o Brasil representa 33% de todo o café que é consumido lá. O café brasileiro, tanto arábica quanto o robusta, é o mais competitivo”, disse. “Agradecemos ao governo por tudo que tem feito no Brasil e no exterior e defendemos o diálogo”, disse o presidente da Cecafe.

Cândido disse que os empresários americanos acham que a medida é inflacionária porque o café não é produzido nos EUA e não concorre com o agro americano e achou positivo o convite do governo para conversar. “Não só pela tarifa. É abertura de mercado, viagem para o exterior, eu estive 30 dias na Ásia com o governo, então estou muito feliz de estar aqui. Nós vamos achar solução e ela será benéfica para todos nós”, finalizou o presidente da Cecafe.

Pavel Cardoso, Presidente da Associação Brasileira de Industria do Café (Abic), ressaltou a complementaridade do café brasileiro ao mercado dos EUA. “A experiência que a indústria nacional com a indústria americana, que também negocia esse equilíbrio na relação comercial Brasil-EUA, há todo um sentimento do setor que isso seja resolvido”, disse. “O ambiente aqui é de negociação, de urgência e de curto prazo para manutenção das boas relações comerciais que o Brasil tem com o país americano há mais de 200 anos.”

Ibiapaba Neto, Presidente da CITRUS BR, que representa os exportadores de suco de laranja, disse que 40% das exportações têm como destino os EUA e em 2024 movimentou US$ 93 bilhões em receitas, também destacando a complementariedade com este destino e a importância do diálogo e do pragmatismo na negociação. “Agradecemos os ministros Alckmin e Fávaro que têm sido apoiadores do diálogo, vamos manter o pragmatismo. O setor está bem preocupado, a safra está bem no começo, temos uma safra inteira para ser colhida sem saber se o nosso segundo mercado será mantido, pois a tarifa de 50% associada aos US$ 515 por tonelada que o setor já paga, inclusive a mais do que seus principais concorrentes, certamente inviabiliza.”

Guilherme Coelho, Presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) disse que os produtores “têm hoje 2,5 milhões hectares de frutas para colher e 5 milhões de empregos” e ressaltou a preocupação com a manga, especialmente. “Neste momento o que mais nos preocupa é a safra da manga para os EUA. O Vale do São Francisco está em pânico. Essa safra significa 2,5 mil containers de manga para os EUA, foi planejada há seis meses, como todo ano, engloba embalagem, grandes, médios e pequenos produtores, reservas nos navios e supermercados. Estamos bastante inseguros. Não podemos pegar a manga e jogar na Europa, não tem logística, nem no Brasil, preço vai desabar. Urge o pensamento global, o desemprego em massa. Vamos exaurir a conversa” disse o presidente da Abrafrutas. “Espero que os alimentos não entrem nessa taxação.”

Coelho disse que antes não existia taxação, depois veio a de 10% e agora com a tarifa de 50% ficará inviável vender aos EUA. “A safra de manga começa em 1 de agosto”, concluiu a Abrafrutas.

Por: Agência Safras