
Apesar da desaceleração econômica e do recuo da inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano — o maior patamar desde 2006. A decisão, tomada por unanimidade pelo Banco Central, tem gerado forte reação de entidades da indústria, do comércio e do setor trabalhista, que afirmam que a política de juros altos está sufocando a produção, os investimentos e o consumo.
A justificativa do Copom está relacionada ao cenário de incertezas, especialmente após o aumento de tarifas comerciais pelos Estados Unidos. “O comitê tem acompanhado com particular atenção os anúncios referentes à imposição de tarifas ao Brasil, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza”, destacou o BC em nota.
Apesar da previsão de crescimento do PIB em 2025 ter subido para 2,1% segundo o Banco Central (e 2,23% segundo analistas do boletim Focus), o setor produtivo alerta que esse avanço pode ser comprometido pelos efeitos negativos dos juros altos.

Desde 2021, quando a Selic chegou ao piso de 2%, o Brasil iniciou um ciclo de alta acentuado. De lá para cá, a taxa quintuplicou, atingindo os atuais 15%. O movimento, embora aponte para o controle da inflação, tem sido criticado por comprometer o crescimento econômico e a competitividade da produção nacional.
Críticas contundentes da indústria e do comércio
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, criticou duramente a manutenção da Selic. Segundo ele, “medidas como a elevação do IOF e o tarifaço dos EUA, somadas aos juros elevados, vão impactar diretamente a produção industrial, encarecer o crédito em R$ 4,9 bilhões e provocar perda de empregos”. Para Alban, “o momento pede uma política monetária mais favorável. Precisamos de menos juros e mais crescimento”.
A Associação Paulista de Supermercados (Apas) também se manifestou, destacando que “o Brasil tem uma das maiores taxas reais de juros do mundo”. O economista-chefe da entidade, Felipe Queiroz, alertou que a manutenção da Selic “prejudicará investimentos, o consumo das famílias e afetará diretamente o nível de atividade econômica do país”.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP), embora veja coerência técnica na decisão do Copom, reconhece o peso dos juros elevados. “A inflação ainda está acima da meta de 4,5% e o cenário fiscal e internacional exige cautela”, ponderou o economista Ulisses Ruiz de Gamboa.
Centrais sindicais apontam impacto sobre famílias e empregos
As centrais sindicais também se posicionaram contra a decisão. A presidenta da Contraf-CUT e vice da CUT, Juvandia Moreira, afirmou que a Selic “não funciona para o tipo de inflação que o Brasil enfrenta e apenas transfere renda para o setor financeiro”. Já o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, foi direto: “o Banco Central perdeu uma oportunidade de reduzir drasticamente os juros e estimular o emprego e a produção”.
Inflação ainda acima da meta, mas em queda
Apesar das pressões, o Banco Central mantém o foco no combate à inflação. O IPCA acumulado em 12 meses está em 5,35%, ainda acima do teto da meta contínua de 4,5%. Para 2025, o BC projeta uma inflação de 4,9%, mas essa estimativa pode ser revista conforme o comportamento do dólar e dos preços.
Por: Henrique Theotônio e Amanda Coelho
