
A expectativa dentro da Marfrig é que a conclusão da fusão com a BRF se dê até o fim de setembro, afirmou nesta sexta-feira (15/8) o diretor financeiro da Marfrig, Tang David, em teleconferência de resultados com analistas.
O direito de recesso, ao qual os acionistas que não votaram a favor da fusão podem usufruir, se encerra em 5 de setembro. A companhia espera ter antes desse prazo a aprovação do regulador concorrencial.
O tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deve concluir a votação da operação em sua próxima reunião, que ocorrerá em 20 de agosto. Até o momento, a fusão recebeu no colegiado quatro votos favoráveis e um contrário.
Na avaliação de Marcos Molina, presidente do conselho de administração da Marfrig e acionista controlador da companhia, os votos até agora “fora muito técnicos, muito consolidados”. Ele disse que espera “com serenidade” a reunião do dia 20. “Estamos confiantes que vamos ter o ‘ok’ final do Cade”, afirmou.
Sinergias
Assim que a conclusão da fusão entre a Marfrig e a BRF for concluída, a nova companhia MBRF deve ficar focada na captura de sinergias nos primeiros seis meses, afirmou Molina. Durante esse período, ele indicou que a companhia não pretende realizar nenhuma operação de fusão ou aquisição (M&A). “Temos o dever de casa pra fazer.”
Ele reiterou que a expectativa é de captura de R$ 800 milhões em sinergias, que já estão mapeados, mas afirmou que o número é “conservador”. “Tem muita oportunidade de baixar custo”, afirmou Molina. Para ele, tem “muito trabalho para gerar caixa e destravar valor”.
Segundo Molina, a MBRF já nasce com uma alavancagem (relação entre sua dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, o Ebitda, em 12 meses) de 3 vezes. Ainda segundo ele, se a National Beef, subsidiária da Marfrig nos Estados Unidos, estivesse vivendo um ciclo normal de rentabilidade, a alavancagem seria de 2,5 vezes.
Ele ressaltou que a agência de classificação de risco S&P Global Ratings já elevou o rating da BRF diante da aprovação da fusão pelos acionistas, o que já indicaria essa vantagem.
Molina afirmou que a futura companhia já está trabalhando em seu planejamento estratégico para 2026. Para o próximo ano, a Marfrig teria um capex menor, depois de dois anos de expansão dos investimentos, enquanto a BRF teria um capex maior.
A nova companhia que surgir da fusão entre BRF e Marfrig poderá usar créditos tributários para realizar investimentos em bens de capital (capex), disse Molina. Segundo ele, a BRF tem R$ 1 bilhão em créditos tributários no Paraná que pode usar em investimentos. “Temos como não queimar caixa, e sim transformar crédito em produção”, defendeu.
A estratégia de alocação de capital da MBRF será manter a disciplina financeira e seguir pagando dividendos para remunerar os acionistas. Para isso, a nova companhia vai ter “alavancas” para manter essa disciplina. “Vai desde o investimento em marketing até assegurar o capex — ao invés de fazer [o investimento orçado] em um ano, podemos fazer em dois anos”, exemplificou. O princípio, segundo ele, é também executar uma política “acompanhando outros players de mercado, para não termos vantagem anticompetitiva no custo financeiro”.
O caixa consolidado da MBRF será de R$ 23 bilhões, segundo Tang David, diretor financeiro da Marfrig. Com esse recurso, o executivo disse que a companhia poderá fazer gestão de dívidas (“liability management”) para “reduzir a despesa financeira”.
Molina ressaltou ainda que a MBRF nasce ainda com “vantagens de custo” no Brasil e na América do Sul em geral, nos Estados Unidos, no Oriente Médio e na China”.
“A nova planta na China, começamos a operar mandando matéria-prima para lá. A planta estava ociosa e fizemos um acordo com o McDonald’s. Nesta semana, produziu os primeiros produtos depois de dez anos sem produzir”, afirmou.

Dividendos
Molina afirmou na teleconferência que a BRF poderá distribuir até R$ 3 bilhões em dividendos, e não R$ 3,5 bilhões, a depender da quantidade de acionistas que aderir ao direito de recesso — ou seja, que preferirem vender suas ações do que continuarem na companhia e aceitarem a troca pelas ações da Marfrig. Neste caso, a Marfrig poderá fazer um ajuste para acompanhar os dividendos menores pagos pela BRF, afirmou.
Pelo acordo de fusão, a BRF distribuiria R$ 3,5 bilhões em dividendos, enquanto a Marfrig distribuiria R$ 2,5 bilhões.
“Temos esse ajuste fino para fazer. Não vai ter surpresa nenhuma”, afirmou o empresário. Segundo Molina, há 500 milhões de acionistas na base da Marfrig que podem exercer o direto de recesso — ou seja, que não aprovaram a fusão na assembleia extraordinária.
Molina defendeu que os acionistas da BRF terão vantagem em converter suas ações para a nova empresa, que segundo ele terá maior capacidade de converter Ebitda em caixa.
De acordo com o empresário, se a fusão já tivesse ocorrido, o lucro por ação deste trimestre seria de R$ 0,54 (em uma conta que inclui a captura de R$ 200 milhões em sinergias e o pagamento de impostos), enquanto os acionistas da BRF tiveram neste trimestre um lucro por ação de R$ 0,46. Ainda segundo ele, se a National Beef estivesse em um ciclo de rentabilidade normal, o lucro por ação da MBRF seria “o dobro”.
Além disso, Molina disse que a MBRF poderá distribuir uma parcela maior de seu lucro aos acionistas além dos dividendos mínimos.
Listagem nos EUA
Com a fusão concluída, a nova companhia também deve buscar uma listagem de ações nos Estados Unidos, como já revelaram as duas empresas na época do anúncio da operação.
“A listagem nos Estados Unidos está no radar e vamos estar preparados e acompanhando. É um passo natural”, disse.
Segundo ele, a medida melhoraria o múltiplo de avaliação da companhia e ainda baixaria o custo de capital.
Por: Globo Rural
