
O aumento nos preços dos fertilizantes em 2025 tem tirado o sono de produtores rurais em todo o país — e em Mato Grosso do Sul, onde a agricultura de soja é uma das bases da economia, o impacto é direto na rentabilidade e na qualidade das lavouras.
A Aprosoja/MS estima que, para a safra 2025/26, os gastos com fertilizantes representam 39,8% dos custos totais de produção da soja, um dos maiores percentuais da última década. A despesa média por hectare passou de R$ 1.125,00 na safra 2024/25 para R$ 1.395,80 neste ciclo, uma alta de 24,1%.
Preços em alta e oferta reduzida
O movimento de encarecimento é global. De acordo com a Scot Consultoria, entre janeiro e setembro, o cloreto de potássio (KCl) — essencial para o enchimento dos grãos — acumulou alta de 13,4% na versão granulada. Entre os fertilizantes fosfatados, o superfosfato simples e o MAP granulado subiram 21,9% e 17,6%, respectivamente.
Os aumentos são reflexo de restrições de exportação impostas pela China, queda na produção da Rússia e alta no preço do enxofre, insumo usado na fabricação de fosfatados. Além disso, o fortalecimento do dólar, que superou R$ 5,40 no principal período de compra dos agricultores, elevou ainda mais o custo final para o produtor brasileiro.
Impacto direto no campo sul-mato-grossense
Em Mato Grosso do Sul, o reflexo dessa escalada atinge em cheio o bolso do produtor. Segundo levantamento do Departamento de Economia da Famasul, os custos operacionais da soja e do milho cresceram, em média, 18% neste ano, puxados principalmente pelos insumos importados.
“O produtor rural se planeja com antecedência, mas quando o câmbio e o preço internacional sobem juntos, fica difícil segurar a margem”, explica Marcelo Bertoni, presidente da Famasul. “Mesmo com produtividade estável, o lucro por hectare cai e compromete o reinvestimento na propriedade.”
Para o produtor José Carlos Figueiredo, de Maracaju, o desafio tem sido equilibrar o custo elevado dos fertilizantes com o planejamento financeiro.
“Na safra passada, gastei cerca de R$ 700 mil em adubos. Este ano, passei dos R$ 850 mil. A gente tenta negociar, mas o aumento é inevitável. Se o preço da soja não reagir, o lucro vai ser bem mais apertado”, afirma.
Qualidade da safra também pode ser afetada
Além do impacto financeiro, técnicos alertam que o encarecimento dos fertilizantes pode levar alguns produtores a reduzir a adubação, o que compromete o potencial produtivo e até a qualidade dos grãos.
“Há produtores que tentam economizar na correção do solo ou na aplicação de potássio e fósforo. Isso pode resultar em lavouras menos vigorosas e grãos com menor peso específico”, avalia Gustavo Madeira, engenheiro agrônomo da Ampasul (Associação Sul-Mato-Grossense dos Produtores de Algodão).
Segundo ele, o equilíbrio químico do solo é essencial para garantir eficiência no uso da água e resistência a pragas, fatores decisivos para manter o padrão de qualidade do grão sul-mato-grossense.
Cenário e perspectivas
Mesmo com os preços em patamares elevados, analistas indicam que o mercado deve mostrar leve acomodação no fim de 2025, impulsionado pela queda da demanda global e pela estabilidade cambial. “O dólar em sua mínima dos últimos 13 meses ajuda a aliviar os custos de importação, mas ainda estamos longe dos valores praticados antes da guerra na Ucrânia”, observa o consultor Fábio Rezende, da Scot Consultoria.
Enquanto isso, o produtor rural se vê diante de uma equação desafiadora: custos altos, margens menores e a necessidade de manter produtividade. Em estados como Mato Grosso do Sul, onde a soja responde por mais de 50% do valor bruto da produção agrícola, a preocupação é evidente — qualquer oscilação nos insumos se traduz em impacto direto na economia regional.
Custo crescente da soja em MS (R$/ha)
| Safra | Fertilizantes | Custo Total Estimado |
|---|---|---|
| 2024/25 | R$ 1.125,00 | R$ 2.825,00 |
| 2025/26 | R$ 1.395,80 | R$ 3.225,00 |
| Variação | +24,1% | +14,1% |
Fontes: Aprosoja/MS, Famasul, Scot Consultoria (outubro/2025).
Por: Amanda Coelho
