
Enquanto várias das principais potências agrícolas do planeta registraram queda ou estagnação em 2024/2025, o agronegócio brasileiro avançou e assumiu a liderança global em crescimento de produção e geração de renda.
Segundo o Cepea/USP, a renda agropecuária do Brasil cresceu 4,1% em 2025, superando Estados Unidos, União Europeia, Austrália e Argentina — todas impactadas por clima adverso, falta de competitividade e políticas internas restritivas.
O desempenho brasileiro seria motivo de comemoração nacional se não viesse acompanhado de um paradoxo: o setor que mais cresce, mais exporta e mais sustenta o PIB é justamente o que recebe menos atenção, menos incentivo e mais críticas do governo federal.
Brasil cresce enquanto gigantes agrícolas recuam
Com base em dados oficiais de organismos internacionais, o cenário global foi o seguinte:
Brasil – +4,1% de crescimento
Fonte: Cepea/USP
Impulsionado por soja, milho, carnes, algodão e celulose, o agro brasileiro manteve expansão mesmo com juros altos, custos elevados e dificuldades logísticas.
Estados Unidos – +1,3%
Fonte: USDA
Safra menor de milho, quebra parcial de trigo e pressão sobre pecuária reduziram o avanço americano.
União Europeia – –1,1%
Fonte: Comissão Europeia
Greves, aumento de custos e regras ambientais rígidas derrubaram a produção agrícola do bloco.
Austrália – –4%
Fonte: ABARES
A seca intensa causada pelo El Niño reduziu safras e limitou exportações.
Argentina – perto de zero
Fonte: INDEC e Bolsa de Cereales
Mesmo em recuperação, a crise hídrica anterior e o descompasso econômico limitaram o avanço argentino.
Conclusão clara:
O Brasil lidera o crescimento agropecuário global.
Cresce mais que EUA, UE, Austrália e Argentina juntos.
E faz isso sem apoio efetivo do governo federal.

Mesmo sem políticas públicas, o agro sustenta o país
Se o desempenho já seria relevante em condições normais, ele se torna impressionante quando se observa o ambiente em que o produtor rural tem sido obrigado a trabalhar:
• Sequestro de recursos do Plano Safra 2024/25
O governo contingenciou verbas de subvenção, paralisando linhas de crédito e atrasando liberações que já estavam contratadas. Estados como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Paraná relataram cancelamentos de financiamentos no meio da safra.
• Seguro rural sem política definida
O Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) perdeu previsibilidade:
– recursos liberados tardiamente,
– cortes abruptos,
– produtores sem cobertura em ano de El Niño e La Niña alternando.
Na prática, o seguro rural virou um jogo de sorte.
• Juros altos e financiamentos inacessíveis
Com Selic a 15%, a mais alta desde 2006, produtores enfrentam:
– custo elevado do custeio,
– dificuldade de acessar investimentos,
– dívidas acumuladas,
– risco real de falência.
Em MS, MT e PR, associações de produtores relatam o maior número de pedidos de renegociação desde 2016.
Apesar disso, o agro continua alimentando o mundo
Mesmo sob abandono político e sufoco financeiro, o agro:
- responde por 49% de todas as exportações brasileiras,
- garante mais de US$ 100 bilhões de superávit,
- evita que o PIB brasileiro entre no negativo,
- mantém a segurança alimentar de mais de 180 países,
- e sustenta milhares de municípios interioranos.
Economistas do Cepea, da FGV e da Esalq concordam: sem o agro, o PIB do Brasil seria negativo em 2025.
Um setor gigante tratado como adversário
Enquanto o agronegócio garante divisas para o país, o setor tem sido:
- politizado,
- criticado por discursos ideológicos,
- alvo de cortes,
- e ignorado em políticas estruturais.
Produtores de pequeno, médio e grande porte enfrentam dificuldades — alguns, especialmente no Sul e Centro-Oeste, já relatam falência, leilões de bens e aperto de crédito.
Mesmo assim, o agro segue firme — e liderando o mundo
O Brasil:
- cresce mais que as potências agrícolas,
- amplia exportações,
- lidera mercados globais,
- e sustenta a economia nacional.
Tudo isso mesmo sendo o setor menos apoiado pelo governo federal.
O agro brasileiro mostra uma força que ultrapassa crises políticas, choques econômicos e falta de reconhecimento. E prova, mais uma vez, que sem campo não há PIB, não há exportação e não há Brasil forte.
Por: Henrique Theotônio e Amanda Coelho
