O ano tem sido truculento no campo no interior de Mato Grosso do Sul, entre produtores rurais e indígenas, com a tensão intensificada desde o dia 14 de julho onde, um grupo da etnia Kaiowás, invadiu uma propriedade em Douradina, entrando em conflito com os proprietários da fazenda causando o ferimento de um produtor rural e um indígena.
O grupo reivindica a retomada das terras que, Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Estado brasileiro já reconheceu, identificou e estabeleceu os limites da futura Terra Indígena Panambi (GuyraKambi’y), mas o processo de demarcação está paralisado desde 2011. Em outubro de 2016, a demarcação, promovida pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), foi anulada por uma sentença judicial da 1ª Vara Federal de Dourados (MS) que concede aos produtores o direito de produzir nas terras.
O presidente da Famasul, Marcelo Bertoni, se encontrou esta semana com produtores da região onde ocorre o conflito para traçar estratégias e tomar medidas para sanar o conflito. Ele ressalta que há uma decisão judicial e espera que ela seja cumprida. “Já existe a decisão judicial dizendo que o produtor pode plantar, quando se tem uma decisão jurídica agente sempre acata”, esclareceu.
Bertoni disse ainda que não pode ceder a preções impostas pelos invasores, o que causaria mais caos a nível nacional podendo gerar um número ainda maior de invasões. “ Não podemos premiar quem está causando caos e invadindo propriedades rurais. Aceitar acordos seria premiar e causaria um caos, onde o Brasil inteiro teria propriedades invadidas”. Esperando pela resolução do conflito, Bertoni prometeu cobrar o cumprimento das decisões judicias já deferidas.
A Ministra dos Povos Indígenas esteve no local do conflito e se reuniu com produtores rurais e lideranças indígenas, onde afirmou que o conflito não interessa a ninguém, ressaltando a necessidade de diálogo sobre o assunto e reforçando a permanência das forças de segurança no local.
Invasões
Um levantamento aponta que ao menos 83 propriedades rurais foram invadidas no estado, a maioria por povos indígenas. Há relatos de propriedades em Bodoquena, Douradina, Bonito, Naviraí e Dourados que, ao longo deste ano, tenham sofrido algum tipo de invasão.
Em abril deste ano, supostos sem-terra chegaram a invadir a Fazenda Passará, que pertence à Suzano, mas acabaram deixando a propriedade após negociação com o setor de vigilância patrimonial e segurança da multinacional. Em julho, um acampamento com aproximadamente 60 barracos de lona, foi erguido em frente a uma outra fazenda também de propriedade da Suzano, que tem posse de uma liminar, em uma ação de interdito proibitório, que impede os acampados de retornarem ao território da fazenda de plantação de eucalipto, que serve de matéria-prima para a sua fábrica que já opera na cidade.
Também em julho, grupos ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), invadiram sedes do INCRA em um movimento conjunto de âmbito nacional. No estado a invasão foi em Campo Grande, onde cerca de 200 militantes reivindicaram áreas em Sidrolândia, Ponta Porã, Nova Andradina, Corguinho, Itaquiraí, Japorã, Bataiporã e Dourados para destinação a assentamentos para reforma agrária, além de acusa fazendas crime de trabalho escravo.
Por: Henrique Theotônio