
Na interseção entre produção e preservação, o agronegócio brasileiro vive um ponto de mudança de direção. Por décadas, o setor foi apontado como vilão ambiental, agora, empresas e produtores rurais estão provando que é possível, e lucrativo, aliar sustentabilidade à rentabilidade.
A transformação tem sido impulsionada por três vetores principais: tecnologia, mercado e regulação. Segundo dados da Embrapa, propriedades que adotam práticas sustentáveis, como integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e agricultura de precisão, apresentam aumento médio de 15% na produtividade e redução de até 30% nos custos operacionais com insumos.
Uma prova disso são as feiras agropecuárias, o presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Guilherme Bumlai, disse durante entrevista assim que assumiu o mandato em 2022, que uma das suas prioridades era mobilizar a discussão das principais pautas que envolvem o setor como a “Pecuária 4.0”, sistemas integrados de produção – como o lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e agora os créditos de carbono.

“Estamos buscando informações para entender como o produtor pode ser melhor remunerado com o crédito de carbono na pecuária. Vamos nos aprofundar e trazer para os associados esses detalhes sobre como eles podem obter um pouco mais de ganho financeiro com essa iniciativa”, comenta Bumlai.
Ações que deram certo, em 2024 o foco da Acrissul foi em realizar uma Expogrande Sustentável. Para isso, a associação firmou convênios, com apoio de assessoria ambiental, conseguindo com que a feira neutralizasse 25 toneladas de carbono, com destinação correta de resíduos. “Além disso, iniciou um projeto de rumo lixo zero, conseguindo atingir 74,1% de desvio de materiais do aterro sanitário”.

Já na edição da Expogrande 2025, dois importantes projetos de sustentabilidade foram lançados, uma casa construída com foco em práticas ambientais inovadoras, instalada no Parque de Exposições Laucídio Coelho, e uma parceria que possibilitará a separação e destinação para a reciclagem dos resíduos produzidos no parque, mesmo em períodos sem feira.
Mas, esta prática não é uma novidade no Estado, os produtores rurais têm conhecimento tanto de como proceder para se tornar sustentável e de como isso pode dar um retorno em valores. Um exemplo é a Fazenda Santa Brígida, no Mato Grosso do Sul, que há mais de dez anos incorporou práticas regenerativas ao seu modelo de produção. Além de recuperar áreas degradadas, a fazenda diversificou sua produção e elevou sua margem de lucro, tornando-se referência nacional. “O solo saudável virou nosso maior ativo”, afirma José Roberto Dias, gestor da propriedade.


O mercado também vem premiando a sustentabilidade. Exportadores brasileiros de soja, carne e café observam uma demanda crescente por produtos com rastreabilidade e certificações ambientais. Empresas que conseguem comprovar boas práticas têm acesso a mercados premium na Europa e nos Estados Unidos, além de taxas menores em linhas de crédito verde.
Ainda assim, existem desafios. Segundo a consultoria Agroicone, apenas 20% das propriedades rurais utilizam algum tipo de monitoramento ambiental eficiente. Falta assistência técnica, políticas públicas mais robustas e, principalmente, incentivo à transição sustentável entre pequenos e médios produtores.
Em um mundo cada vez mais atento às mudanças climáticas, o Brasil com seu potencial de produzir e preservar, pode liderar uma revolução verde no campo. A aposta é clara: plantar sustentabilidade para colher prosperidade.
Por Fabíola Camilo e José Roberto dos Santos.
Fotos: Henrique Theotônio
