
A imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, a partir de 1º de agosto, acendeu um sinal de alerta em todo o setor produtivo. Anunciada pelo presidente Donald Trump por meio de carta oficial ao governo brasileiro, a medida impacta diretamente o agronegócio, setor responsável por quase metade das exportações nacionais, e foi recebida com forte preocupação pelas principais entidades do setor.
Diferente de disputas comerciais anteriores, dessa vez não há justificativa econômica clara. O aumento tarifário tem caráter nitidamente político e ocorre em meio à aproximação do Brasil com o bloco dos BRICS e a crescente deterioração da relação institucional entre os dois países.
O governo Lula tenta tratar o episódio como mais um embate geopolítico, mas não esconde o constrangimento diplomático: foi pego de surpresa. O clima no Itamaraty é de tensão, e as reações oficiais até aqui soaram tímidas diante da gravidade da situação.
Agronegócio na linha de frente
O impacto no agro é direto e violento. Produtos como carne bovina, café e suco de laranja se tornam quase inviáveis no mercado norte-americano. O Brasil detém 32% da fatia de café nos EUA e havia crescido 113% nas exportações de carne bovina para aquele país. Com a nova alíquota, o custo da tonelada da carne pode saltar de US$ 5.700 para US$ 8.600 — um baque logístico e econômico para toda a cadeia.
“É como se colocassem um pedágio de 50% no nosso produto. Perdemos competitividade, poder de mercado e previsibilidade”, alertou Frederico Franco, especialista em riscos e compliance.
Além disso, o próprio anúncio já provocou efeitos colaterais: o dólar subiu, encarecendo insumos importados, e o setor produtivo se vê diante de um novo ciclo vicioso de custos elevados e margens comprimidas.
Vozes do agro exigem ação firme e estratégica
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que representa a bancada ruralista no Congresso Nacional, foi uma das primeiras a se posicionar. Em nota, defendeu “cautela, diplomacia firme e presença ativa na mesa de negociações”. A entidade considera a tarifa um grave alerta à estabilidade comercial entre Brasil e EUA, e cobra do governo uma resposta proporcional — sem bravatas ideológicas, mas com clareza estratégica.
“A nova alíquota afeta diretamente o agronegócio nacional, eleva o custo dos insumos importados e ameaça a sustentabilidade das nossas exportações”, destacou a FPA.
A senadora Tereza Cristina (PP-MS), vice-presidente da frente, também reforçou a necessidade de equilíbrio institucional: “Brasil e EUA têm longa parceria e seus povos não devem ser penalizados. Temos instrumentos legais para negociar e evitar uma crise maior.”


Já a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) foi contundente: “Essa tarifa inviabiliza a carne brasileira nos EUA. Não se pode usar geopolítica como arma contra a segurança alimentar global.”
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) também repudiaram a medida. Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, “não há fato econômico que justifique a tarifa; é preciso retomar o diálogo com urgência”. Já a AEB classificou a ação como “uma das maiores taxações já sofridas por um país em tempos de paz”.
Um governo acuado e pouco eficiente na diplomacia
O governo Lula anunciou que pretende acionar a Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada em abril, para reagir. A legislação permite suspensões de concessões comerciais e barreiras contra empresas de países que prejudiquem a competitividade brasileira. No entanto, entidades do agro têm receio de que a resposta fique no discurso.
“Essa não é uma hora para retórica ideológica ou revanchismo. O agro precisa de resultados, de previsibilidade e de diplomacia que funcione — e isso não estamos vendo neste governo”, afirmou um integrante da FPA sob reserva.
Nos bastidores, diplomatas interpretam a ação de Trump como retaliação à postura brasileira no BRICS e às críticas internas que o governo Lula tem feito à política externa dos EUA. Ao associar a decisão tarifária a processos do STF contra aliados de Bolsonaro, Trump acende um novo capítulo da tensão entre conservadores americanos e a esquerda no poder no Brasil.
Conclusão: é o agro que sustenta, é o agro que deve liderar
A crise escancarou um ponto que o Brasil teima em ignorar: o agronegócio precisa ser tratado como prioridade geopolítica e não como ativo ideológico. A resposta à altura não pode ser deixada na mão de quem vê o comércio exterior com viés partidário. O agro precisa estar no centro da reação.
Entidades sérias e parlamentares ligados ao setor já mostram o caminho: diplomacia firme, ação estratégica e defesa dos interesses do Brasil produtor. Resta saber se o Planalto será capaz de escutar quem realmente move a economia brasileira.
Por: Henrique Theotônio
