
Apesar da iminente tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre as exportações de carne brasileira, o impacto direto sobre o setor pecuário não deve ser tão devastador quanto o inicialmente projetado. A diversificação de mercados e a qualidade do produto nacional mantêm o Brasil numa posição privilegiada no comércio global.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o primeiro semestre de 2025 já é o melhor da história para a pecuária brasileira. Somando carne in natura, industrializada e miúdos comestíveis, o país embarcou 1.690.230 toneladas, um crescimento de 17,3% em relação ao mesmo período de 2024. O faturamento totalizou US$ 7,446 bilhões — alta de 28%.
Os Estados Unidos, segundo maior destino da carne brasileira, compraram 411.700 toneladas nos seis primeiros meses do ano, um salto de 85,4% sobre 2024, pagando US$ 1,287 bilhão — crescimento de 99,8%. Ainda assim, representaram 24,4% das exportações totais do setor.

No topo da lista está a China, com 631.900 toneladas adquiridas (37,4% do total exportado), seguida pelo México, que entrou definitivamente no grupo dos grandes compradores. Os mexicanos importaram 52.104 toneladas — um crescimento expressivo de 189% — e investiram US$ 315,2 milhões, alta de 235% na comparação com o mesmo período do ano passado. O país ocupa agora a quarta posição entre os maiores clientes do Brasil.
Além disso, mercados como Chile, Emirados Árabes, Egito e Filipinas continuam com demanda crescente. O cenário mostra que, mesmo com a perda parcial do mercado norte-americano, a carne brasileira seguirá em alta — impulsionada pela sua reconhecida qualidade e pelo custo competitivo.
Frigoríficos pressionam arroba, e produtores denunciam manobra
Apesar dos bons números no comércio exterior, o mercado interno vive tensão. Frigoríficos vêm aproveitando o momento para derrubar o preço da arroba do boi, segundo lideranças do setor.
“É inadmissível o que os frigoríficos estão fazendo. Aproveitam essa história da tarifa como desculpa pra derrubar a arroba, mesmo com os dados mostrando que temos mercado comprador. Estão montando um verdadeiro quartel pra forçar o produtor a vender barato”, afirmou Paulo Matos, presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Mato Grosso do Sul (Nelore MS), em entrevista à imprensa local.
Quem também critica a postura da indústria é Guilherme Bumlai, presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul): “Os produtores estão sendo sacrificados. O dólar alto, a exportação aquecida, e mesmo assim os frigoríficos pagam menos. Essa tática não é nova, mas agora se intensificou. Precisamos de ação das autoridades”, disse Bumlai.

Mato Grosso do Sul é protagonista
O Mato Grosso do Sul vem consolidando seu protagonismo nas exportações de carne. O estado já responde por cerca de 15% do total embarcado pelo Brasil, segundo dados do Ministério da Agricultura. A carne sul-mato-grossense está presente em mais de 40 países e segue sendo reconhecida pela sua genética, sustentabilidade e padrão sanitário.

Nota da União Nacional da Pecuária (UNP)
“A União Nacional da Pecuária acompanha com atenção a situação tarifária imposta pelos EUA, mas reforça que o setor está preparado para superar adversidades. A ampliação de mercados e a valorização da carne brasileira no exterior demonstram que o país não depende exclusivamente de um só comprador. Seguimos vigilantes e atuantes para garantir justiça comercial e proteção ao produtor rural brasileiro.”
Por: Henrique Theotônio
