Estiagem derruba produtividade da soja e do milho em Mato Grosso do Sul, aponta estudo da Aprosoja/MS

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A safra 2023/2024 marcou um dos ciclos mais desafiadores da última década para os produtores de grãos de Mato Grosso do Sul. Segundo o Estudo Técnico do Impacto da Estiagem nas Lavouras do Estado, publicado nesta semana pela Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja/MS), a combinação entre altas temperaturas e irregularidade das chuvas reduziu drasticamente a produtividade da soja e do milho no Estado, com reflexos diretos sobre a economia regional e o abastecimento interno.

De acordo com o levantamento, a safra de soja 2023/2024 ocupou 4,2 milhões de hectares, mas registrou produtividade média de apenas 48,84 sacas por hectare — uma das mais baixas dos últimos dez anos. O volume total colhido foi de 12,3 milhões de toneladas, representando queda de 8% em relação à safra anterior.

Evolução da produtividade da soja em MS (sacas/ha)

SafraProdutividade médiaVariação anual
2020/202155,2
2021/202252,1-5,6%
2022/202353,1+1,9%
2023/202448,8-8,1%

Fonte: Aprosoja/MS – SIGA/MS

A estiagem atingiu de forma mais severa as regiões centro e sul do Estado, responsáveis por mais de 80% da área cultivada. Municípios como Dourados, Maracaju, Sidrolândia e Ponta Porã registraram perdas superiores a 20% em algumas propriedades, segundo o Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (SIGA-MS).

“É essencial compreender como os períodos prolongados de seca vêm influenciando a dinâmica agrícola em Mato Grosso do Sul. As áreas mais sensíveis à escassez hídrica têm apresentado sinais claros de redução na eficiência produtiva, o que impõe desafios não apenas ao rendimento das lavouras, mas também à viabilidade econômica de muitos produtores”, destacou Gabriel Balta, coordenador técnico da Aprosoja/MS.

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Milho também sofre com estiagem prolongada

A segunda safra de milho 2023/2024 foi igualmente afetada pela falta de chuvas. A precipitação média ficou em torno de 600 milímetros, muito abaixo do ideal para o ciclo, que é de aproximadamente 900 mm. O resultado foi uma queda na produtividade, que ficou próxima de 80 sacas por hectare, contra 94 sacas/ha registradas no ciclo anterior.

Em termos de produção total, Mato Grosso do Sul colheu cerca de 11,1 milhões de toneladas de milho, ante 12,9 milhões em 2022/2023 — uma redução de 14%, conforme dados da Aprosoja/MS e da Conab.

Safra 2024/2025: expectativa é de recuperação parcial

Para a safra de soja 2024/2025, o cenário ainda é de cautela. Os primeiros meses do ciclo indicam chuvas irregulares em setembro e início de outubro, especialmente nas regiões de fronteira e sudoeste. A Aprosoja/MS estima, entretanto, que o Estado possa recuperar parte das perdas se o regime de precipitação se normalizar até dezembro.

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“O estudo mostra a resiliência dos produtores, mas também evidencia que o clima é determinante na produção agrícola. É fundamental ampliar o debate sobre gestão hídrica e adoção de tecnologias para garantir a sustentabilidade do setor”, afirmou o presidente da Aprosoja/MS, Jorge Michelc.

A entidade reforça a importância da adoção de tecnologias de manejo, monitoramento climático e irrigação localizada, além da implementação de políticas públicas que facilitem o acesso a crédito e a programas de mitigação de risco climático.

Impactos econômicos e políticas de apoio

O levantamento técnico subsidiou a elaboração do Projeto de Lei 5.122/2023, que tramita no Congresso Nacional e propõe a liquidação, anistia e renegociação de dívidas de crédito rural, Cédulas de Produto Rural (CPRs), fornecedores e cooperativas. O texto foi entregue pela Aprosoja/MS a lideranças políticas estaduais e federais, como parte de uma articulação para preservar a capacidade produtiva do Estado.

Conforme dados da Famasul, as perdas na safra de grãos podem reduzir em até R$ 2,3 bilhões o Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária de Mato Grosso do Sul em 2024, impactando diretamente o comércio e os serviços nas cidades agrícolas.

Participação de MS na produção nacional de soja

EstadoProdução 2023/2024 (mil t)Participação nacional
Mato Grosso45.20031,5%
Paraná18.10012,6%
Rio Grande do Sul17.80012,4%
Goiás14.0009,7%
Mato Grosso do Sul12.3008,6%

Fonte: Conab – setembro/2024

Mesmo com a quebra de safra, Mato Grosso do Sul segue como o quinto maior produtor de soja do Brasil, com forte presença nas exportações do grão e derivados via Corredor Norte (Porto de São Francisco do Sul) e Corredor Oeste (Porto de Santos).


O relatório completo da Aprosoja/MS pode ser consultado no site da entidade: www.aprosojams.org.br.

Por: Amanda Coelho